Regiões Produtoras de Cacau no Amazonas são um tema de grande relevância, não apenas por sua contribuição econômica, mas também por seu papel na conservação da biodiversidade e no desenvolvimento sustentável da região. A Amazônia é o berço do cacau, com uma história que remonta a milhares de anos, e o Amazonas, em particular, tem se destacado como um dos principais estados produtores desse fruto. Este artigo explora as principais regiões produtoras de cacau no Amazonas, destacando a diversidade de práticas agrícolas, a sustentabilidade e o impacto econômico e cultural dessa atividade.
Compreender a produção de cacau no Amazonas é essencial para valorizar a importância desse fruto na Amazônia e para promover práticas agrícolas que beneficiem tanto o meio ambiente quanto as comunidades locais.
História e Origem do Cacau no Amazonas
Origem Amazônica
A origem do cacau é um tema que tem sido objeto de pesquisa e debate entre cientistas e historiadores. Até recentemente, acreditava-se que o cacau era originário da América Central, mas estudos recentes, incluindo análises de DNA, confirmaram que o cacau é, de fato, amazônico. Pesquisas arqueológicas na província de Zamora Chinchipe, na Amazônia equatoriana, encontraram evidências químicas e físicas de cacau da variedade “fino de aroma” em recipientes de cerâmica datados de 5.500 anos atrás. Essas descobertas indicam que o cacau já era consumido e cultivado na Amazônia muito antes de sua introdução na América Central, onde foi encontrado em culturas como a Olmeca há cerca de 3.000 anos.
Domesticação e Cultivo
A domesticação do cacau na Amazônia é um processo que remonta a milhares de anos. Os povos antigos da região, como a cultura Mayo-Chinchipe-Marañón, já utilizavam o cacau em suas práticas sociais e rituais, consumindo-o em forma de polpa, como bebida, e em receitas elaboradas com o pó da semente torrada. A domesticação do cacau envolveu a seleção de plantas com características desejáveis, como maior produtividade e resistência a pragas, e a adaptação ao cultivo em sub-bosque, protegido da luz direta do sol. Essa prática milenar de domesticação contribuiu para a diversidade genética do cacau e sua capacidade de adaptação a diferentes ambientes.
Chegada ao Brasil
A introdução do cacau na Amazônia brasileira está ligada à colonização portuguesa, com os primeiros registros históricos datando do final do século XVII. Não se sabe ao certo como e quando o cacau chegou ao Brasil, mas acredita-se que foi trazido pelos colonizadores portugueses, que viam no fruto uma oportunidade econômica.
A produção de cacau na Amazônia brasileira começou provavelmente no final do século XVII, com o Pará sendo uma das primeiras regiões a receber as sementes. No entanto, foi na Bahia, no século XVIII, que o cultivo do cacau se consolidou, tornando-se uma atividade econômica significativa. A Bahia, com seu clima semelhante ao amazônico, se tornou o principal centro de produção de cacau no Brasil, especialmente a partir do século XIX, quando o Brasil se tornou um dos maiores produtores mundiais.

Principais Regiões Produtoras de Cacau no Amazonas
- Borba
- Produção Significativa: Borba é o maior produtor de cacau do estado do Amazonas, com uma produção de 656 toneladas em 2022.
- Impacto Econômico: A produção de cacau em Borba gera uma receita de R$ 609 mil, impactando diretamente a economia local.
- Incentivo ao Cultivo: O Idam tem incentivado a cultura do cacau em Borba, distribuindo sementes e promovendo boas práticas de plantio.
- Produção Significativa: Borba é o maior produtor de cacau do estado do Amazonas, com uma produção de 656 toneladas em 2022.
- Nova Olinda do Norte, Maués e Urucará
- Líderes em Produção: Em 2019, essas cidades foram as que mais produziram cacau no Amazonas.
- Produção Familiar: A produção de cacau nessas regiões é caracterizada pelo manejo sustentável, com muitos produtores familiares envolvidos.
- Qualidade Reconhecida: A Na’kau Chocolate Amazônico utiliza cacau da região para produzir chocolates de alta qualidade, reconhecidos internacionalmente.
- Líderes em Produção: Em 2019, essas cidades foram as que mais produziram cacau no Amazonas.
- Urucurituba
- Manejo Histórico: Urucurituba é uma das regiões onde o cacau-da-várzea é manejado historicamente pelas famílias ribeirinhas.
- Produção Atípica: A colheita do cacau em Urucurituba muitas vezes requer o uso de canoas devido às cheias da Amazônia.
- Apoio ao Produtor: O Idam tem apoiado os produtores de Urucurituba com ações de demonstração de boas práticas de plantio e entrega de mudas.
- Manejo Histórico: Urucurituba é uma das regiões onde o cacau-da-várzea é manejado historicamente pelas famílias ribeirinhas.
- Vale do Juruá
- Potencial de Exploração: O Vale do Juruá tem um grande potencial para a exploração do cacau nativo.
- Comunidades Envolvidas: Comunidades como Luciano, Novo Horizonte, Rebojo e Santo Antônio estão envolvidas na produção de cacau silvestre.
- Manejo Sustentável: A SOS Amazônia, em parceria com outras instituições, promove o manejo sustentável do cacau na região.
- Potencial de Exploração: O Vale do Juruá tem um grande potencial para a exploração do cacau nativo.
- Manaus, Coari e Urucurituba
- Centro de Comercialização: Manaus é um ponto central para a compra e venda de cacau, além de ser um local de entrada e saída de produtos.
- Maior Produtor: Coari foi apontado pelo PAM em 2004 como o maior município produtor de cacau do estado.
- Iniciativas de Apoio: O 1º Workshop da Cadeia Produtiva da Cultura do Cacau foi realizado em Coari em 2024, visando o desenvolvimento da produção cacaueira.
- Centro de Comercialização: Manaus é um ponto central para a compra e venda de cacau, além de ser um local de entrada e saída de produtos.
A produção de cacau no Amazonas é diversificada e sustentável, com cada região contribuindo de maneira única para a economia local e para a conservação ambiental. A adoção de práticas agroecológicas, o manejo integrado de pragas e doenças, e a implementação de sistemas de certificação e rastreabilidade são passos cruciais para garantir que o cacau amazônico continue a ser uma fonte de renda e conservação para a região.
Produção e Qualidade do Cacau Amazônico
Cacau Silvestre
O cacau silvestre, também conhecido como cacau nativo ou selvagem, é uma variedade que cresce naturalmente na Amazônia, especialmente ao longo das várzeas dos rios. Suas características únicas incluem:
- Sabor e Aroma: O cacau silvestre possui um perfil sensorial complexo, com notas frutadas, florais, de nozes e especiarias, que o tornam altamente valorizado no mercado gourmet.
- Sustentabilidade: A exploração do cacau silvestre é uma prática sustentável, pois não requer desmatamento e pode ser realizada em áreas já degradadas, promovendo a recuperação dessas áreas.
- Importância Socioeconômica: A colheita do cacau silvestre gera renda para comunidades ribeirinhas, muitas vezes em áreas de difícil acesso, contribuindo para a economia local.
Cacau Fino
O cacau amazônico tem um potencial significativo para atingir as melhores classificações de qualidade, conhecido como cacau fino ou de aroma:
- Qualidade Superior: O cacau amazônico é reconhecido por sua qualidade excepcional, com sabores únicos que encantam os paladares mais exigentes.
- Mercado Gourmet: A demanda por chocolates artesanais e produtos de alta qualidade impulsiona a valorização do cacau fino amazônico, que pode ser vendido a preços mais elevados.
- Certificações: Iniciativas como a certificação de origem e a rastreabilidade digital promovem a transparência e a valorização do cacau amazônico no mercado global.
Sistemas Agroflorestais
O cultivo de cacau em sistemas agroflorestais (SAFs) é uma prática que promove a sustentabilidade e a conservação ambiental:
- Sequestro de Carbono: Os SAFs com cacau contribuem para o sequestro de carbono da atmosfera, ajudando a mitigar as mudanças climáticas.
- Biodiversidade: A diversidade de espécies presentes nos SAFs protege e mantém a biodiversidade local, criando habitats para fauna e flora nativas.
- Proteção do Solo: As árvores ajudam a proteger o solo contra a erosão, mantendo sua fertilidade e estrutura.
- Eliminação das Queimadas: Os SAFs eliminam a necessidade de queimadas, uma prática comum em sistemas de cultivo convencionais que contribui para o desmatamento e a emissão de gases de efeito estufa.
- Renda Diversificada: A produção de cacau em SAFs permite a diversificação da renda dos agricultores familiares, reduzindo os riscos associados à monocultura.
A produção de cacau na Amazônia, quando realizada de forma sustentável, não apenas gera renda para as comunidades locais, mas também contribui para a conservação ambiental, a recuperação de áreas degradadas e a mitigação dos impactos das mudanças climáticas. A adoção de práticas agroecológicas, a conservação da biodiversidade e a recuperação de áreas degradadas são pilares fundamentais para um futuro mais verde e próspero para a Amazônia e para o mundo.
Economia e Emprego
Impacto Econômico
A produção de cacau no Amazonas tem um impacto econômico significativo, contribuindo para a geração de empregos e para o desenvolvimento econômico local. O estado do Amazonas é o segundo maior produtor de cacau do Brasil, com uma produção anual de aproximadamente 150 mil toneladas de amêndoas de cacau, resultando em um valor bruto de produção de R$2,4 bilhões em 2023. Esse valor é esperado para crescer, com estimativas de produção superior a 152 mil toneladas para 2024.
A produção de cacau não apenas gera empregos diretos, como também indiretos, com o Amazonas empregando 60.980 pessoas diretamente e 243.920 indiretamente. A cadeia produtiva do cacau envolve desde o cultivo das amêndoas até a transformação em produtos como chocolate e cosméticos, criando uma rede de empregos que vai além da agricultura.
Bioeconomia
A produção de cacau no Amazonas se encaixa perfeitamente no modelo de bioeconomia, que busca a utilização sustentável dos recursos biológicos para gerar renda e promover a conservação ambiental. A bioeconomia do cacau promove práticas agrícolas sustentáveis, como o cultivo em sistemas agroflorestais (SAFs), que não apenas aumentam a biodiversidade e a conservação da floresta, mas também contribuem para a mitigação das mudanças climáticas através do sequestro de carbono.
Iniciativas como o Projeto Cacau Amazônia, apoiado pelo Sebrae/RR, SEADI, FAERR, IATER, Dimitra, Prefeitura Municipal de Caroebe, CERES e ABRAFUTRAS, incentivam práticas sustentáveis de manejo e a introdução de inovação e tecnologia na cadeia produtiva, promovendo a conservação e a geração de renda para as comunidades locais.
Agricultura Familiar
A agricultura familiar desempenha um papel crucial na produção de cacau no Amazonas. Cerca de 80% da produção de cacau no Brasil depende dos agricultores de pequenas propriedades, que muitas vezes vivem em áreas de assentamentos ou em comunidades tradicionais. Esses pequenos produtores têm uma aptidão natural para a produção sustentável, adotando práticas que respeitam os recursos naturais e garantem a qualidade do produto.
A produção de cacau por agricultores familiares não apenas gera renda, mas também promove a conservação da biodiversidade e a recuperação de áreas degradadas. Iniciativas como a “Filha do Combu” na Ilha do Combu, Pará, mostram como a agricultura familiar pode ser uma alternativa viável para a bioeconomia, aumentando a renda e promovendo a sustentabilidade.
A produção de cacau no Amazonas é um exemplo de como a agricultura pode ser integrada com a conservação ambiental, promovendo a sustentabilidade e o desenvolvimento econômico. A adoção de práticas agroecológicas, a conservação da biodiversidade e a recuperação de áreas degradadas são pilares fundamentais para um futuro mais verde e próspero para a Amazônia e para o mundo.

Conclusão
A produção de cacau no Amazonas é uma história rica e complexa, que envolve a conservação ambiental, a sustentabilidade, a economia local e a cultura. Desde suas origens amazônicas até a produção sustentável atual, o cacau tem sido um pilar fundamental para a região. A adoção de práticas agroecológicas, o manejo integrado de pragas e doenças, e a implementação de sistemas de certificação e rastreabilidade são passos cruciais para garantir que o cacau amazônico continue a ser uma fonte de renda e conservação para a região.
O Amazonas se destaca por suas regiões produtoras de cacau, como Borba, Nova Olinda do Norte, Maués, Urucará, Urucurituba e o Vale do Juruá, cada uma contribuindo de maneira única para a economia local e para a conservação ambiental. A produção de cacau silvestre e fino, além do cultivo em sistemas agroflorestais, promove a sustentabilidade e a valorização do cacau nativo, oferecendo oportunidades para acessar mercados internacionais e aumentar a renda dos produtores.
No entanto, os produtores enfrentam desafios significativos, como o acesso a crédito, assistência técnica e comercialização, além da pressão do desmatamento e práticas degradantes. Iniciativas de apoio, como o Projeto Cacau Amazônia e parcerias com instituições de pesquisa e desenvolvimento, estão ajudando a superar esses desafios e a aproveitar as oportunidades. A inovação e a tecnologia também desempenham um papel crucial, com o uso de monitoramento por satélite, manejo integrado e certificações para atender às demandas do mercado global.
A cultura e a tradição do cacau no Amazonas são preservadas através do legado familiar, rituais e cerimônias, e o turismo rural, que promove a cultura local e gera renda para as comunidades. A produção de cacau na Amazônia não apenas molda a economia local, mas também deixa um legado cultural e ambiental que continua a ser explorado e valorizado até hoje.
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